Retorno às Aulas

No dia 25.fev.2013 acompanhei pela web a videoconferência para o início do ano letivo na rede pública do Estado do RS.
O evento começou com a fala do sr. Secretário de Estado da Educação prof. Dr. Jose Clovis de Azevedo seguido pelo prof. Dr. Gaudêncio Frigotto.
(release do evento pode ser lido no Portal da Educação)

O sr. Secretário usou a ferramenta Prezi para apresentar os eixos políticos da gestão da Seduc e destacou que o governo aumentou o percentual aplicado em Educação sobre a receita líquida do Estado, demonstrando que a Educação é prioridade da atual gestão. Segue a apresentação original seguida de alguns comentários.

A apresentação começou com o que considero um clássico de todos os governos ao dizer que está trabalhando pela valorização profissional, reestruturação curricular, melhoria da gestão e das escolas. Parece-me adequado (o Estado deve fazê-lo), mas fico reticente quanto à necessidade de "re-reformar" o currículo.
No segundo quadro, o sr. Secretário ressaltou que o Estado aumentou os investimentos chegando a quase 30% da RLIT em 2012. Em termos porcentuais não mudou muito nos últimos 6 anos. Penso que ele deveria ter destacado os valores absolutos que quase duplicaram em relação a 2007 por conta do aumento de arrecadação. Deve-se dar mérito ao trabalho da Fazenda.
Mais adiante, informa a construção de 28 escolas indígenas (o Governo Yeda tinha encaminhado 25 com o FNDE com valor estimado de R$32.430.000).
clique nessa figura para ampliá-laAo informar que há 1050 obras concluídas ou em execução até aquele dia me fez remeter ao Governo Yeda que, até maio de 2010, tinha concluído 2017 obras mais 229 em execução e outras 108 com início autorizado. Em relatório da Divisão de Obras da SEDUC de 01.06.2010, o Governo estava envolvido com um investimento de mais de 153 milhões de reais para obras como pode ser conferido na figura (clique nela para ampliar):
Para repetir esses números, o Estado terá que acelerar o ritmo até 2014.

O sr. Secretário informou que cada aluno custou R$ 4.736,75 em 2011 e que jogamos fora cerca meio bilhão de reais com reprovação e abandono. É uma lástima que tenhamos um sistema assim há tantos anos. Estamos jogando dinheiro fora; também o presente e o futuro dos nossos jovens. O nosso futuro.
Uma saída para isso é o sistema por classificação que o Estado adotou ano passado usando siglas em vez de notas que deverá reduzir a reprovação e melhorar o IDEB (o IDEB é fortemente influenciado pela taxa de aprovação).
Com todos os problemas que o IDEB apresenta (em sua constituição limitada), ele ainda traz aspectos positivos para um entendimento melhor de nossa educação. Ele pode ser aperfeiçoado. E, como todo índice, serve mais como uma aproximação com o público. IDH é outro índice que facilita a comunicação. Entender mais profundamente o que está por traz disso é importante. Há duas formas de resolver a questão: ignorar as estatísticas (alguém já disse que a ignorância é uma dádiva) ou entendê-las.

Outro dado interessante é tratar dos 21% de escolas com até 100 alunos. Se considerarmos as salas de aula com menos de 20 alunos, a situação é gritante, como já pude ver em outros relatórios. Por isso há gestores fechando escolas. Não é para economizar apenas, mas é que não faz sentido o Estado garantir escola pública com aula particular.
Em seguida, fala da queda no número de matrículas ano a ano na rede estadual de ensino, atribuindo ao fato que a população gaúcha está crescendo de forma retraída, em ritmo suíço. Não citou que parte é por conta da municipalização, ou seja, parte dos alunos do Ensino Fundamental migrou para rede municipal. Também não citou que houve melhora nas taxas de aprovação, melhorando o fluxo ao longo do ensino fundamental, nem sobre a melhoria no controle das matrículas (era comum um mesmo aluno ser contado mais de uma vez por ser matricular em várias escolas e também porque escolas não davam "baixa" quando havia transferência). Outro fator que o Estado não tem controle é sobre os alunos que fazem EJA em escolas particulares (digo isso porque ao longo dos anos tenho encontrado alunos meus que estão no meu caderno de chamada e dizem que estão fazendo EJA ou que concluíram. Nesse caso, um duplo registro?). Somando todos esses fatores e contando quantos jovens estão fora da sala de aula é que podemos entender a redução nas matrículas, que leva a uma necessária redução de salas de aula e escolas a médio ou longo prazo.
O Governo está firme no propósito de aumentar os salários dos professores. Rezemos para que consiga e que as finanças públicas tenham fôlego para sustentarem-se pelos anos seguintes. Inclusive a previdência.
Hoje, professor nível 6 com quase duas décadas de magistério (6 triênios) já ganha tanto ou mais que na maioria das escolas particulares gaúchas (dados que cruzei com o disponível pelo SINPRO-RS). Se perceber difícil acesso, a situação lhe é mais favorável ainda.


Para o professor e pesquisador Frigotto o desafio para a sociedade é recuperar o sentido da Educação Básica e o papel da escola na constituição da identidade de um povo. “A Educação Básica tem que proporcionar a formação para o indivíduo inserir-se de maneira autônoma na cidadania. Buscando núcleos de conhecimentos que em sua unidade nos permite o diverso”, disse. O pesquisador também enfatizou a necessidade da classe do magistério resgatar seu domínio pedagógico dentro das escolas. “Banco é banco, indústria é indústria e escola é escola”, disse fazendo referência ao grande número de economistas e profissionais de outras áreas que desenvolvem teorias a respeito da gestão na Educação.
Particularmente, sustento que o conhecimento produzido por economistas e estatísticos é fundamental para que tenha boa gestão na Educação e outras áreas. Ignorar números? Nem pensar. Os estatísticos, por exemplo, admitem a dificuldade que têm de se fazer entender. Eles usam uma linguagem própria que não faz o menor o sentido para os demais. Nesse blog, tento, às vezes, fazer essa ponte, apresentando de outras formas, pois nosso cérebro pode ser enganado quando se trata de números (aproveito para divulgar O Andar do Bêbado, de Leonard Mlodinow).
Um caso típico é o do Problema de Monty Hall que apresentei em outro blog. Então, suspeito daqueles que dizem que a educação deva ignorar os conhecimentos produzidos nas diferentes áreas de atuação do homem. Aliás, não seria um paradoxo ignorá-los e mesmo destratá-los?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mapa Conceitual

IDEB 2

Horário Escolar